Porque as abelhas são tão importantes?
Estima-se que duas entre três plantas cultivadas no mundo dependam de polinizadores, como as abelhase outros insetos, para produzir frutos e sementes. Pode-se dizer que um terço dos alimentos que chegam à nossa mesa precisam dos polinizadores para serem gerados.
Os meliponíneos, que são as abelhas sem ferrão, também conhecidas como abelhas indígenas ou nativas, são grandes polinizadoras. Conforme explica o Programa Nacional Abelhas Nativas (PNAN), elas são fundamentais para a manutenção da vegetação natural e cultivada e contribuem para a perpetuação de muitas espécies nativas, além da saúde de culturas agrícolas.
É por meio da polinização que acontece o processo de produção de frutos e sementes e a reprodução das plantas. Por isso, a polinização é um dos mecanismos mais eficientes na manutenção da biodiversidade. Para acontecer, o processo precisa de “soldados da natureza”, ou seja, os polinizadores.
Trata-se de animais e insetos, como abelhas, vespas, pássaros, borboletas, pequenos mamíferos e até mesmo o vento ou a chuva. Eles são responsáveis pela transferência do pólen entre as flores masculinas e femininas para que haja a reprodução.
De todos os “soldados”, as abelhas são os mais eficientes. São os agentes mais adaptados e os mais importantes no processo de polinização. Responsáveis por até 90% do transporte de pólen e fecundação das árvores nas florestas, as abelhas se tornam espécies inestimáveis para a manutenção da natureza, nascimento de novas árvores e indiretamente, até mesmo pela pureza do ar.
Um dos diferenciais das abelhas nativas na polinização é que elas podem ser usadas com segurança em espécies vegetais cultivadas em ambientes fechados. Justamente pelo fato de não possuírem ferrão.
Também há uma relação de interdependência entre algumas espécies de plantas e seus respectivos polinizadores, que podem ser únicos – como é o caso do pimentão. Essa cultura necessita de abelhas que exerçam movimentos vibratórios em cima da flor para liberação do pólen. Esse movimento vibratório é comum de abelhas nativas e não é observado na Apis Mellifera ou abelha africanizada.
Alguns estudos indicam um papel essencial dos meliponíneos na polinização da flora nativa. Seu trabalho é tido como um serviço ecológico-chave para a manutenção e a conservação dos ecossistemas. Elas também possuem papel estratégico na reconstituição de florestas tropicais e conservação de remanescentes florestais. Podem voar até as árvores mais altas e trabalhar na regeneração das florestas primárias.
Diferentes tipos de abelhas
Mundialmente, existem cerca de 25.000 diferentes tipos de espécies de abelhas (cerca de 4.000 nos EUA e no Brasil cerca de 300 espécies nativas). Este número enorme é dividido em mais de 4.000 gêneros de abelhas, que são depois subdivididos em apenas nove famílias de abelhas. A família Apidae é, talvez, a família mais conhecida.
Todas estas espécies obedientemente servem como polinizadores de nosso mundo agrícola. E todas elas são excelentes no que fazem. Por exemplo, todas as abelhas têm cabelos duros e bolsos nas pernas, o que lhes permite coletar mais pólen e transportar de forma mais eficientes o pólen entre as plantas. Não é só isso, abelhas parecem ser ainda mais bem-sucedidos em determinadas culturas devido aos seus maiores tamanhos e vibrações mais vigorosas. Isso ajuda a melhor dispersar o pólen entre as flores e os frutos que ela visita.
Abelha sem ferrão
Na verdade existem muitas espécies de abelhas que não possuem ferrão. As principais são: a irapuã, que também é bastante utilizada na produção de mel e também tem uma grande atuação na agricultura; a jataí, que é fã de flores ornamentais; e a mirim, que os produtores de morangos levam para morar na plantação deles e impedir deformidades genéticas nos frutos, porque a polinização leva genes de uma planta para outra, impedindo a consanguinidade, isto é, a mistura de genes semelhantes entre flores de uma mesma planta, que são como “flores irmãs”.
Economia
Para além da importância ambiental, as abelhas sem ferrão representam um importante instrumento de composição de renda em populações rurais e até mesmo urbanas. Sua criação beneficia a produção de frutos, além de possibilitar a comercialização de mel, própolis, pólen e das próprias colônias – desde que os criadores sejam licenciados.
Muitos alimentos como maçã, melão, café, maracujá, laranja, soja, caju, uva, limão, cenoura, dentre outras, dependem do trabalho delas. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, em inglês), a polinização por esses insetos gera US$ 54 bilhões por ano, sendo responsável por pelo menos 1/3 da produção mundial de alimentos, polinizando 85% das florestas e 70% das culturas agrícolas.
Perigos da falta de conhecimento
Os perigos da falta de conhecimento incluem a extinção de espécies e sérios danos ao meio ambiente. Se as abelhas sumissem da terra teríamos que lidar com um problema ecológico de grandes proporções, já que elas são responsáveis pela polinização de maior parte das plantas nativas, dependendo do bioma. O desaparecimento das abelhas causaria a extinção de boa parte da flora brasileira e de toda a fauna, assim como de todos os dependentes das espécies vegetais para alimentação.
Portanto, sua preservação é de extrema importância para a manutenção – e saúde – de nossa cadeia biológica. As abelhas devem ter um ambiente apropriado para cumprir seu papel polinizador, e assim garantir a continuidade das espécies de flores e plantas. Muitas das quais servem como fontes de alimento para outros animais, inclusive o homem.
A ameaça dos pesticidas às abelhas
Os principais polinizadores da natureza estão desaparecendo! As abelhas começaram a abandonar suas colmeias, um fenômeno conhecido como Distúrbio de Colapso de Colônia (CCD, em inglês). Simplesmente elas não retornam e suas colmeias são encontradas vazias. Os primeiros relatos apontando o desaparecimento em larga escala de abelhas surgiram nos Estados Unidos, sendo que das 5 milhões de colmeias estimadas em 1988, hoje restam metade. Além da América do Norte, atualmente este problema também se manifesta na Europa e na América Latina. Na Europa, a redução chegou a 53%, e no Brasil, a quase 30%.
A causa do desaparecimento desses insetos não está totalmente esclarecida, mas sabe-se que não existe apenas uma única razão, e sim vários fatores, ocasionados pelo impacto humano ou não. Um estudo da Universidade de Harvard associa esse fenômeno com o uso dos inseticidas à base de neonicotinóides (derivados da nicotina). Ao entrar em contato com essa substância, seja ao visitar uma flor contaminada ou por pulverização aérea do agrotóxico, são gerados problemas de memória de navegação nas abelhas, que se desorientam e perdem a capacidade de retornar às colmeias, morrendo longe das mesmas.
O ser humano depende de um conjunto de atividades de vários insetos, microrganismos e outros animais. Aqueles que possuem algum valor biológico ou financeiro são explorados, já aqueles que não geram lucro ou que prejudiquem essa finalidade tendem ao extermínio. Pensando dessa maneira, foram desenvolvidos pesticidas para afastar as pragas das rentáveis colheitas. No entanto, de acordo com o relatório da Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos (EFSA) pode estar ocorrendo um efeito indesejável no uso desses produtos químicos. Três pesticidas neonicotinóides, estariam potencialmente afetando as colônias de abelhas selvagens e provocando uma deficiência na polinização de diversas culturas. Essa descoberta fez vários países europeus, dentre eles França, Itália e Alemanha, suspenderem e até proibirem a venda desses produtos.
No Brasil também há essa preocupação
Pesquisa realizada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) com acompanhamento e supervisão da Diretoria de Qualidade Ambiental do Ibama, aponta alguns dos efeitos letais e subletais provocados nas abelhas. Esses insetos são conhecidos por terem uma sociedade extremamente organizada e funcional, mas se forem afetados pelos pesticidas podem desenvolver desvios de comportamento como a perda da capacidade de orientação, interferência na capacidade olfativa e gustativa, além de problemas para sua reprodução. Tudo isso interfere na harmonia das colônias e por consequência no processo de polinização
O controle sobre esses produtos é relevante porque as abelhas são polinizadores importantes também em nossas lavouras. A saúde delas pode estar diretamente ligada a uma boa colheita e até mesmo ao crescimento econômico. Uma boa parcela do PIB nacional vem do campo e, nos últimos anos, o país esteve longe de atingir as expectativas.
Consequências
Como consequência, o desaparecimento das abelhas pode impedir ou reduzir drasticamente a reprodução de muitas espécies de plantas, levando ao desequilíbrio dos ecossistemas e a perda da biodiversidade. A produtividade agrícola também está em risco, podendo ocasionar forte impacto à economia global. Se por um lado, atividades agrícolas e pecuárias são vistas como lucrativas, por outro, elas podem estar comprometidas por elas mesmas.
Solução
As soluções para reverter esse quadro englobam o monitoramento deste fenômeno, a realização de controles biológicos das pragas ou desenvolvimento de defensivos não nocivos às abelhas e, principalmente, a conservação dos habitats. Afinal, ao degradar o meio ambiente, a polinização e muitos outros serviços ecossistêmicos são reduzidos. Assim como o caso das abelhas, que geram bilhões de reais/ano, qual seria o valor monetário dos demais serviços que a natureza nos oferece? O valor é imensurável! Mas, com certeza usufruir dos recursos de maneira sustentável e a preservação do meio ambiente também é lucrativo. Na realidade, a perda dos serviços ecossistêmicos nos custaria muito caro!
Fontes:
http://ecoa.org.br/por-que-as-abelhas-nativas-sao-tao-importantes-para-o-ecossistema/
https://www.listadecuriosidades.com.br/mundo-animal/por-que-as-abelhas-sao-tao-importantes/
https://www.terra.com.br/noticias/mundo/pesticidas-representam-ameaca-as-abelhas-confirma-agencia-europeia-de-seguranca-alimentar,9dbd972bc2514a380651489983ed1489nawrcob4.html
https://www.ecycle.com.br/component/content/article/38-no-mundo/1323-uso-de-pesticidas-na-lavoura-pode-ser-responsavel-por-morte-de-abelhas.html
https://revistabioika.org/pt/econoticias/post?id=17